Abraço, aconchego, a nossa primeira experiência interativa. O mais importante no início e no fim da nossa existência.
Assim começa e termina o filme baseado no livro Five feet apart, de Rachel Lippincott:
“Toque humano, a nossa primeira forma de comunicação, que nos traz segurança, proteção, conforto. Conecta-nos quando estamos felizes, ampara-nos em momentos de medo, entusiasma-nos em momentos de paixão e amor. Precisamos do toque de quem amamos, quase tanto, como de ar para respirar (…)”.
Amor é o oxigénio dos nossos pulmões, aquilo por que se passa uma vida inteira a aprender a alcançar. A ausência de amor está na base de todas as feridas emocionais, aquelas marcas, buracos que se tentam esconder ou assumir no caminho da vida. Caminho de cruzamentos onde vamos na direção da cura, ou para o abismo do medo, rejeição, abandono, onde ficamos na sombra da vergonha ou na permanência da traição e injustiça. Empanamos maioritariamente nas crenças construídas, nos filtros que ilusoriamente nos protegem e mantêm reféns na zona segura de rodagem.
Todo o ser humano tem a necessidade biológica e natural de pertencer, de ser amado. A primeira oportunidade inicia-se com o nascer nos braços daquela que é a nossa família. No entanto, não é o grau de parentesco que une uma família, pois só o grau de amor num superlativo sem comparação, permite unir, estabelecendo um vínculo além do que gerações anteriores determinam.
Não é a família que faz as pessoas. São as pessoas que fazem a família. A soma das partes que constituem o todo, a rede de suporte que se entrelaça. Por isso é que há amigos que são família, como há famílias em que não há amizade.
A árvore genealógica pode vir de longe e não ter raízes profundas. Pode ter muitos ramos e em nenhum se abrigar um ninho.
Não é o facto de pertencer a uma família que faz com que exista um sentimento de pertença. É a existência do sentimento de pertença que estreita os laços e vincula a um sistema com significado, onde vemos e somos vistos. Respeitados em recíproco.
Pouco pode o tronco de uma árvore genealógica contra corações que não se entroncam uns nos outros e ramos de braços que não se tocam.
O abraço tem o poder de curar, resgatar. É no abraço genuíno que encontramos a aceitação, a compreensão, a reciprocidade. É isso que nos conecta uns aos outros com as linhas da vida universais, além da dimensão física.
“Na sintonia, não existem diferenças. Quem está em sintonia, está ligado a tudo. Por conseguinte, está em paz com tudo” (Bert Hellinger).
Quantos de nós queremos na nossa vida mais amor, alegria, pertença? Não é possível alcançar se não nos permitirmos ser vistos, ser como somos: vulneráveis. Amar é ser vulnerável, sendo na vulnerabilidade que nasce o amor, a alegria e a pertença.
Há quem não esteja disposto a correr esse risco. Há quem prefira não conhecer o amor, a conhecer a dor, mágoa ou desilusão. “Como podem deixar que vos amem se não vos conseguem ver? A verdadeira pertença não requer que mudemos quem somos, requer que sejamos nós próprios” (Brené Brown).
O sistema familiar, firma a sua estrutura na verdade de quem se é, reconhecendo fragilidades, forças e criando o espaço para a aprendizagem e crescimento. É esta a sintonia que nos une.
Família, são aqueles na nossa vida que nos querem na deles. São aqueles que nos aceitam como somos. São aqueles que fazem qualquer coisa para nos ver sorrir e que nos amam incondicionalmente, na verdade. Na nossa verdade, nos nossos erros, nas nossas dores de crescimento, nas nossas escolhas.
Este é o superpoder que encontramos na verdade do amor. Naquele que pode ser abraçado com o coração. Não há tempo nem distância que sejam superiores à memória de um abraço, onde cabe o mundo inteiro que somos e trazemos dentro de nós.
A vida é demasiado curta para se desperdiçar egoicamente este poder da humanidade.
“É preciso desistir do que queremos, para recebermos o que necessitamos” (Bert Hellinger).
Um abraço é uma viagem partilhada para outros mundos. Não há o meu ou o teu. Há o nosso.
Abracemos o que de melhor temos na vida.
Alexandra Cordeiro
nowuknow – your journey of u