Pediram-me que escrevesse sobre o que é coaching pessoal. Sendo um coach profissional ICF a tarefa parece fácil. “Coaching é construir uma parceria com clientes num processo estimulante e criativo que os inspire a maximizar o seu potencial pessoal e profissional”. Para quem, como eu, tem formação certificada e é credenciado pela ICF – International Coaching Federation, esta definição é clara e entusiasmante para que possamos continuar a nossa jornada de desenvolvimento pessoal e profissional, a nossa e a dos nossos clientes. Na verdade, esta definição motiva-nos para a criação de uma relação de igualdade com os nossos clientes, não nos apresentando como alguém que sabe mais do que eles, mas antes como alguém que, com eles, numa relação de “ombro a ombro”, vai observar, facilitar e acompanhar o seu desenvolvimento com base na sua sabedoria interna. Este caminho é feito através do estímulo do raciocínio crítico e criativo, sempre focado na melhor versão do cliente, queira ele desenvolver-se pessoal ou profissionalmente. Na verdade, é de um desenvolvimento pessoal que no final estaremos sempre a falar, mesmo quando os objetivos são tipicamente “corporate”.
Mas esta definição, tão clara para qualquer coach profissional ICF, nem sempre o é para clientes ou mesmo para nós no nosso diálogo comercial com potenciais clientes. Como podemos então definir coaching pessoal?
Lembro-me de, há uns anos, quando terminei a minha formação e iniciei a minha jornada na ICF Portugal, ter perguntado a uma coach, que tenho como sendo uma das referências do coaching, qual era a sua definição de coaching. Refletiu, entre dois goles de gin, e respondeu-me que até então nunca tinha sentido necessidade de ter uma definição de coaching. Os seus clientes não a pediam. E ela também não a tinha. Concluiu assim: “O coaching não se define, vive-se”.
Quando, umas semanas antes, terminei a minha formação, escrevi, na minha defesa da Identidade de Coach, logo depois de ter escrito o meu nome, que “esta é a minha identidade, e o coach que vive em mim vive dentro desta identidade, conferindo-lhe, por simbiose, mais identidade”. Percebi, logo ali, que o coaching tem muito mais que ver com o saber ser do que com o saber fazer. Naquele referido diálogo entrecortado por brindes a um novo caminho encontrei a minha primeira definição de coaching: “O coaching vive-se”.
Dias mais tarde, na vivência do caminho de eterno aprendiz que o referencial da ICF tanto e tão bem defende, fui “e-conhecer” Jean-François Cousin numa das suas brilhantes partilhas sobre a vivência do coaching. Nelas lá estava uma definição que até hoje tomo como a mais profunda: “Coaching é um ato de amor incondicional”. E como me revi naquela partilha de pele. O coaching oferece um espaço seguro ao cliente para … ser. Isso mesmo, para ser. Ser quem é. É um espaço de liberdade em que o cliente se encontra na sua verdade, porque lhe é oferecida a segurança dos limites da intervenção de coaching, sempre dentro dos objetivos e pedidos do cliente em direção aos resultados a que se propõe, onde o cliente se permite ser quem é na sua melhor versão. “Até hoje nunca tinha encontrado um espaço em que pudesse ser tão livre e apoiada como este, senti-me plenamente escutada e apoiada em avançar com a segurança que tanto precisava” (empresária), disse-me um dia uma cliente. Coaching é um espaço sem julgamento, com uma escuta inteiramente dedicada ao cliente. O coach não deixa de existir para que o cliente sobressaia, não. O coach existe para garantir um processo que não resvala naquilo que o coaching não é, para apoiar o seu cliente, para o desafiar a ir mais além, para lhe colocar as questões que o fazem avançar e, até mesmo, para lhe entregar as suas observações, intuições, comentários, pensamentos, sentimentos, sem que esteja, contudo, apegado a esta entrega.
Foi assim que cheguei a este superpoder, o da entrega incondicional ao cliente, como ato de amor que o coaching também é.
Ia já neste caminho de entrega partilhada, quando comecei a receber dos clientes, com quem ia partilhando jornadas, as suas definições de coaching, tanto como definição em si como em forma de partilha de história caminhada em parceria. Guardo com particular carinho a definição de coaching que foi, exatamente, a sua não definição. Já ia bem avançado o processo quando a cliente me diz: “ainda não percebi bem o que é coaching e nem sinto necessidade de perceber; têm sido as conversas mais inteligentes que já tive e gosto de ter” (advogada). Que elogio maravilhoso. Um duplo elogio, ao coaching e, mais importante do que tudo, à inteligência da própria cliente. No processo de coaching, o cliente acede à sua sabedoria global, fazendo uso dos seus vários saberes, encontrando-se nesse caminho de inteligência. O coach que segue um processo em que confia, sabe que essa inteligência vai acabar por emergir e o cliente apoderar-se dela para o seu dia-a-dia. É na escuta poderosa e no questionamento ativo que a relação de coaching se agarra e o espaço de crescimento se cria, dando palco às conversas inteligentes.
Quando esta inteligência é libertada pelo cliente, ele sente que o processo de coaching pessoal serve para “descobrir ou redescobrir capacidades que estavam em mim e que eu não explorava ou não usava, e algumas nem sabia que tinha!” (Diretora de Operações). Quando a descoberta é genuína e vem de dentro, não sendo lá plantada por quem vem de fora, mostra-se como sendo uma descoberta que fica gravada no caminho com traços de autonomia que só o coaching sabe dar aos que escolhem fazer a sua jornada: “Passaram três anos e o que trouxe daí continua presente no meu quotidiano e com a mesma pertinência” (freelancer), ofereceu-me um dia uma outra cliente.
Coaching pessoal é, assim, o percebo agora, um passo na viagem daqueles que ousam ir mais além e fazer a jornada das suas vidas, a sua jornada, aquela que só cada um de nós pode e sabe fazer e que segue para sempre.
“Hoje sou mais do que antes do processo, mas sou menos do que pretendo ser, porque esta jornada inicia-se com o João, mas sabemos que levamos “T.P.C” (Trabalhos Para Crescer) para o resto da vida” (empresário), disse-me o Diogo quando muito bem o podia ter dito o João ao Diogo.
João Laborinho Lúcio
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