“Identificar” surge como o primeiro de quatro passos a que me tenho vinculado quer no olhar para e por mim, quer na forma como abordo a relação de contributo para o desenvolvimento daqueles que ousam ir mais além”. Foi assim que há uma semana, neste mesmo espaço de construção e partilha seguros, me entreguei ao início da resposta “Quem és tu?”. Hoje convoco o “prevenir”.
“Prevenir” é não só um segundo passo na construção de quem somos, individual e coletivamente, como é um alerta constante que passei a adotar na minha vida. Caminhos trilhados sem consciência de mim mesmo levaram-me a encontros de alta toxicidade, assumindo-me, também eu, como sujeito ativo dessas relações. Felizmente que o caminho do coaching é um caminho do saber ser e não apenas do saber fazer e do saber estar. É, portanto, um caminho, em primeiro lugar, da minha mudança, coragem e crescimento para que, depois, sejam um instrumento ao serviço daqueles que ousem ir mais longe.
Antecipar é criar o futuro. Tomar consciência sobre quem se é, antecipa e cria quem se quer ser enquanto indivíduo e como parte do sistema. É comum nas nossas dinâmicas diárias, na vertigem do dia-a-dia, mesmo que em dias mais confinados ou, especialmente, em dias confinados, não nos oferecermos a hipótese de nos escutarmos. De nos escutarmos e de nos entregarmos à escuta dos outros. Parar para não fazermos parar surge assim como um passo de ganho de consciência sobre nós mesmos e sobre os que nos rodeiam, abrindo o espaço criativo sobre o nosso papel na nossa vida e na vida dos outros.
No âmbito organizacional, garantir um espaço de bem-estar enquanto pessoa, na função, na equipa, na organização permite evoluir. Espaço este que só se constrói em relações de parceria e colaboração em que, em conjunto, as pessoas e as equipas trabalham em prol de um bem maior do que o seu “pequeno” mundo. É neste espaço seguro que cada vez mais organizações trabalham para que os seus colaboradores se sintam parte do sistema que os integra, podendo desenvolver-se enquanto indivíduos que são, caminhando no sentido da sua melhor versão nas várias dimensões da sua vida. Organizações que percebem esta importância, sabem que melhores pessoas geram melhores equipas e melhores equipas melhores empresas.
Uma consulta rápida à imprensa diária ou aos estudos que a Ordem dos Psicólogos tem desenvolvido sobre os custos da saúde psicológica no trabalho, mostram-nos, abundantemente, que a perda de produtividade, quer através de absentismo quer de presentismo, por problemas associados à saúde mental dos colaboradores tem um impacto muito sério na economia das empresas, para não falar na qualidade de vida individual e coletiva. A segurança psicológica surge assim como uma força produtiva. Saber parar para não fazer parar é um desafio de autoconsciência e de sabermos escutar o que nos rodeia. Importa, portanto, que as organizações criem condições para que todos possam reconhecer e identificar sinais de alerta em si e nos outros, criando um sistema de suporte, o que deve ser feito com recursos aos profissionais certos. O famoso “cada macaco no seu galho”.
Entendo, portanto, que a prevenção surge assim como um eixo essencial à produtividade individual e coletiva. É no confronto de ideias e perspetivas sobre a realidade, ou sobre a perceção que cada um tem da realidade, que o espaço de criatividade e curiosidade se cria e que permite criar o futuro, antecipando-o. Se as organizações acreditam, como acreditam cada vez mais, no bem-estar individual e coletivo, estão preparadas para identificar os diferentes referenciais e gerar as regras do sistema que garantam a inclusão e as bases da superação.
Identificar e prevenir surgem, assim, com as bases para gerar e evoluir. Assim estejamos todos disponíveis a escutar. A escutar-nos. A escutar os outros. A escutar o que nos rodeia.
João Laborinho Lúcio
nowuknow – your journey of u