Há marés que encerram o seu ciclo. Há novas correntes que libertam águas passadas.
Há todo um mar que guarda tesouros por descobrir.
Quando mergulhamos na verdade não há como ela não seguir o seu caminho. É na verdade que reside a liberdade. A purificação.
Olho para o mar e ele chama por mim. Hesito.
No horizonte vejo uma luz, azul índigo que se vai expandindo,
como um farol que ilumina muito além da superfície.
É nessa luz, na clarividência e profundidade dessas águas que me vejo a mergulhar, numa fusão absoluta do que sou, do que sinto e do que tenho a navegar.
Preciso aprender a ganhar fôlego e a respirar este vento que me empurra à descoberta.
Os ventos e tempestades trazem as perguntas. O mar comporta em si todas as respostas possíveis. Alcançamo-las quando mergulhamos.
A imensidão do mar assusta, pela incerteza do que podemos encontrar.
A rebentação é por vezes o sinal amarelo que acautela o avançar. E por medo, ficamos a ver as ondas a passar, assim como quem fica numa posição defensiva a observar a vida, com hesitação. Sabemos que o que nos leva para fora de pé, pode exigir um pouco mais, sendo precisamente isso que nos transforma verdadeiramente.
Carl Jung descreve o mar como “uma grandeza e uma simplicidade cósmica que impõe silêncio (…). A sua beleza e a magnificência provém do fato de impelir-nos a descer nas profundezas fecundas da nossa alma, onde nos defrontamos connosco, recriando-nos (…)”.
Viver traz a incerteza do amanhã. Também o amar faz parte deste mar de vida. Resgatar, construir, ser, dar e receber algo superior. É esta a flexibilidade que nos é desafiada para crescer e ser maior, permitindo-nos conhecer e seguir numa viagem transatlântica de emoções, de história, de conquista de novos mundos. Os nossos.
De onde viemos, onde estamos e para onde queremos ir.
A busca da compreensão, a curiosidade, a coragem e o conhecimento são os 4 pontos ‘c’, os cardeais, que constituem a bússola orientadora do caminho à cura e à superação.
Quando andamos “à deriva, como um barco, onde a ondulação me balouça ao sabor dos seus caprichos, começo a transformar-me eu próprio nessa ondulação. Cada vez que embarco nele, deixo de ser eu; cada vez que me atiro ao mar, encontro-me” (Pablo d’Ors).
É este profundo sentimento de plenitude que encontramos. Nesse presente momento, um sopro de vida banha-nos a alma.
De pés na areia, cheiramos a maresia do caminho. As ondas estão perfeitas de tão gigantes. Arrancamos em direção a elas, sabendo que o mar onde mergulhamos nos indicará a profundidade, mesmo quando a superfície reclama pelo nosso respirar.
Um Eu maior é aquele que passa pela rebentação, para entrar no fluxo da maré. Com medo, mas sem medo de ter medo. Com coragem. Pois a vitória sobre o grande mar pode estar lá naquele horizonte, quer as ondas nos deitem ao chão, quer nos tragam à terra.
Somos todos aprendizes neste oceano de vida. Onde nos cruzamos uns com os outros. E por mais que possa parecer por vezes solitário, há sempre alguém marinheiro pronto a dar-nos a mão e ajudar-nos a ver o farol.
É este o desafio de viver. É esta imensidão oceânica presente nos braços que se abrem para ti, a quem chamo Vida, onde encontro a oportunidade e a esperança de conhecer, de ser, de ir mais além. Com a certeza de que a incerteza é a constante da vida e não mora na âncora do porto seguro.
Ao olhar para o mar, já não hesito. Escolho entre perder e perder:
Perder a minha vida a resistir ao que tem para me dar.
Ou escolher viver e aceitar, e perder se tiver que perder.
Pois na verdade é neste perder que (me) ganho.
Alexandra Cordeiro
nowuknow – your journey of u