E agora? É a pergunta que todos fazemos … outra vez. E agora, o que fazemos? E agora, como é que vai ser? E agora, o que há de ser de nós? E agora?
Agora, tomamos mais e mais medidas que estejam ao nosso alcance para conter a propagação. A propagação do vírus (talvez não me refira apenas ao Covid-19). A propagação das calamitosas e falsas notícias. Mesmo que sejam oficiais ou oficialmente falsas. A propagação do disparate sempre tão bem representado pela quase impossibilidade de nos expressarmos livremente sobre temas fraturantes. Ou “é” ou “não é”. Parece não haver espaço para mais.
Agora, percebemos que as nossas necessidades continuam a mudar.
Agora, percebemos que o que virá será diferente do que foi, e o que veio tem muito pouco de “novo normal”.
Agora, fazemos aquilo que estiver ao nosso alcance. Sim, fazemos aquilo que estiver ao nosso alcance. Afinal, até o vírus está nas “nossas mãos”. O caminho que se desenha à nossa frente, seja ele o sempre longo caminho de combate à pandemia, seja o caminho de aceitação do vírus na normalidade, terá sempre uma parte que depende exclusivamente de nós. De todos e de cada um de nós. E quanto mais cedo deitarmos mãos a esse caminho, talvez deva dizer a esses caminhos, mais cedo eles começam a ter as paisagens que escolhemos para os ladearem.
E depois de ter escrito estas banalidades, ocorreu-me um comentário repetido: “E agora? Vais continuar a escrever sobre aquela coisa do coaching?”.
Alegra-me saber que alguém nota que escrevo sobre “aquela coisa do coaching”. Não necessariamente por saber que alguém lê o que escrevo, mas por se saber que escrevo sobre “aquela coisa do coaching”. E fico reiteradamente feliz por ter a oportunidade de pensar sobre a questão colocada. Uma questão outrora colocada por outros e, hoje, talvez, colocada por mim.
E agora? Devo continuar a escrever sobre “aquela coisa do coaching”?
De facto continuamos a viver tempos de adaptação, de mudança, em que muito do que sempre tivemos por certo é colocado em perspetiva. Uma perspetiva que fica toldada pela “troca de bolas” entre o “vai tudo voltar a ser como era” e o “já nada vai voltar a ser como era”.
Vivemos um momento em que termos consciência das nossas capacidades e de, com elas, começarmos, o quanto antes, a desenhar o nosso caminho, ganha especial significado. Percebi que aquela pergunta sobre se devo continuar a escrever sobre “aquela coisa do coaching” fez mesmo sentido. Por isso ter deixado de ser uma pergunta vinda de fora e passar a ser uma pergunta íntima. E como voltei a dedicar-lhe tempo de reflexão, volto aqui hoje, já não a um sábado, para clarificar que vou continuar a escrever sobre aquela coisa do coaching. A publicar as respostas à pergunta “Quem és tu?”
A razão que me leva a insistir nesta escolha reside em continuar a fazer sentido escrever sobre coaching. E continua a fazer sentido porque, como sabemos, defendo uma abordagem ao coaching que tem por visão que “o coaching é parte integrante de uma sociedade próspera”. Se assim é, cabe também ao coaching e aos coaches assumir o seu papel nesta fase em que a vulnerabilidade nos foi oferecida de bandeja. Essa peça essencial da nossa engrenagem a que Brené Brown se refere, de entre outras formas, como sendo a capacidade de “aparecermos e sermos vistos; de pedirmos por aquilo de que precisamos; de falarmos sobre o que sentimos; de termos a conversa difícil”.
Parece, então, chegada a hora de todos assumirmos os nossos papéis, sejam eles em que áreas de atividade forem, e de procurarmos fazer a diferença olhando para um bem maior, um bem comum que nos ultrapassa mas que nos envolve. E, neste caminho, pode residir a esperança de que possamos vir a tirar alguma lição maior de “tudo isto”, quando “tudo isto” já não for só “isto” e for algo maior do que “isto”.
E eis que me ocorre a gritante pergunta: Será “isto” a coisa mais importante que devo estar a fazer com o tempo e recursos de que disponho neste momento?
A minha resposta é: “É”.
Qual a vossa?
João Laborinho Lúcio
nowuknow – your journey of u