O objetivo inicial deste texto é escrever sobre “objetivos”. Será este o desfecho?
Depois de, a pedido, ter escrito sobre “Coaching Pessoal”, um novo pedido surgiu: “gostava muito de ler algo teu sobre objetivos, afinal estamos no início do ano e é sempre bom termos objetivos, certo?”.
Aceitando o repto, apesar de um pouco reticente devido à minha escrita orgânica, comecei por escrever no título “objetivos” para me convencer a escrever, mas como interrogação, por acreditar, paradoxalmente, que os objetivos não são em si mesmo “o objetivo”. Apesar de o objetivo inicial desta escrita ser escrever sobre “objetivos”, tenho algumas dúvidas que esse seja o nosso ponto de chegada. Veremos.
Quando escrevo, como neste preciso momento em que os meus dedos ganham vida sobre o teclado, sinto que, como com os “objetivos”, apesar de ser importante saber sobre o que escrevo (da mesma forma que é importante termos os nossos “objetivos”), parece ser ainda mais importante, pelo menos para mim, desfrutar da jornada para lá chegar, até porque o risco de chegarmos a um lugar bem diferente do delineado é grande. Por isso mesmo acredito na importância de aprendermos a fazer a jornada de forma presente, aproveitando cada curva e toda a paisagem que se nos apresenta antes de “lá” chegarmos.
Sir John Whitemore ensinava que “é importante estabelecer intenções claras e específicas porque elas vão funcionar como uma âncora e um guia para ti”. Para efeitos desta prosa, vamos considerar “intenção” como sinónimo de “objetivo”.
Parece, então, que devemos definir os nossos objetivos e que os mesmos devem ser claros e específicos. Devemos saber o que representam para nós e como medir o sucesso da nossa jornada em sua direção. E devemos também considerar a viagem como tendo uma importância pelo menos tão grande quanto alcançar o destino. Por outras palavras, talvez seja um bom objetivo aprendermos a viver de acordo com os nossos objetivos desde o momento em que os definimos e não apenas quando, e se, os alcançarmos.
O pedido que me leva a escrever estas palavras foi feito no momento em que lia, e ainda leio, António Damásio (Sentir & Saber, A Caminho da Consciência), “um livro breve e conciso sobre a consciência”, como o autor refere “Antes de Começar”. Nesse mesmo dia lia “A Consciência (Des)construída” e quando acabei este número do Capítulo do Saber, saltei da consciência da obra que me enriquece os dias para uma consciência “universal” que me trouxe três partes do nosso universo interior: O “mundo que nos rodeia”, o “mundo antigo do nosso interior” e o “mundo no interior do organismo”, o que nos “fornece a moldura e o suporte para o organismo”, o nosso corpo. E por que é que este nosso universo interior me anima quando escrevo sobre “objetivos”? Porque Damásio, umas páginas mais à frente, escreve sobre “A Prioridade do Mundo Interior”, e começa por referir-se ao mundo exterior, dizendo: “quando as pessoas se referem casualmente à consciência começam geralmente por pensar no mundo exterior. Costumam equiparar o estar consciente à capacidade de representar o mundo que as rodeia o que é compreensível pois, na nossa mente, favorecemos desproporcionadamente o mundo que nos é externo”.
O que foi que me fez cair na consciência de Damásio quando, supostamente, escrevo sobre “objetivos”? Talvez a noção de que cada um de nós, “nesta altura do campeonato”, já tenha definido as suas intenções claras e específicas para 2022 e que essas intenções claras e específicas façam mais parte do seu mundo exterior do que do mundo interior. Talvez a crença de que a definição das nossas intenções claras e específicas sobre o nosso mundo interior nos permita estar melhor preparados para cumprir aquelas outras intenções. Acredito na importância da jornada como forma de nos levar mais além e, para isso, acredito que saber saborear cada curva, olhando os dois lados da paisagem e ir realinhando o caminho nos aproxima da versão que queremos ser e do impacto que desejamos ter.
É aqui que retomo os universos do mundo interior atabalhoadamente roubados a Damásio para questionar que intenções claras e específicas foram definidas sobre esse nosso mundo “interior”. Quais as nossas escolhas sobre o que nos rodeia, fazendo esse “arco do triunfo” ainda parte do nosso mundo interior? Que objetivos traçámos sobre o nosso mundo antigo interior, aquilo a que, aqui, nesta prosa, posso chamar do nosso autocuidado interior, psicológico, afetivo, emocional? E, porque não, questionar sobre que objetivos desenhamos para a “moldura e suporte” do nosso ser físico, o nosso corpo?
Qualquer objetivo que tenhamos traçado ou venhamos a traçar serve de âncora e de guia para nós. Isso mesmo, para “nós”. Importa, portanto, que sejamos nós, na nossa melhor versão, quem os alcança. E somos nós, na nossa melhor versão, quem mais facilmente pode levar-nos a aproximar-nos dos nossos tão desejados objetivos.
Quais são, então, os inegociáveis de cada um no cumprimento da jornada? O que é que nos faz parar um pouco todos os dias para não fazermos parar? O que é que cada um quer fazer na sua jornada diária que o deixa mais perto dos seus objetivos a médio e longo prazo?
Os meus estão bem definidos e comunicados àqueles que me são mais próximos. São esses inegociáveis que me aproximam dos meus objetivos, quer sejam os que hoje defino, quer sejam os que o amanhã tem escolhidos para mim. O que sei é que quando lá chegar quero estar inteiro e na minha melhor versão. Por isso mesmo os partilho com aqueles que fazem a diferença na minha vida, porque também eles são inegociáveis e porque os inegociáveis, no final, também são para eles.
João Laborinho Lúcio
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